Foi há 39 anos que uma revolução sem
sangue, mas de cravos, depôs o regime ditatorial do Estado Novo, vigente desde
1933, devolvendo a “liberdade” a Portugal.
A história do desporto português é uma
ciência académica recente em Portugal. Ainda são poucos os estudiosos que a ela
se dedicam e alguns dos que a têm feito ao longo dos anos são jornalistas que,
frequentemente, não adoptam nos seus textos ou teses as correntes historiográficas
mais atuais. Hoje, na feitura da história exige-se a ausência de todo o tipo de
anacronismos, isto é, o regresso ao passado não pode ser feito de acordo com a
realidade socialmente construída do presente, mas sim da época que se está a
descrever.
Contando que as competições internacionais
existem aproximadamente desde meados dos anos 50, será que nunca nenhum
jornalista ou historiador do futebol português se apercebeu do porquê de a
década de 70 ter sido a única sem presenças de portugueses na final de uma
competição europeia?
Em 1949, o Sporting Clube de Portugal foi a
primeira equipa portuguesa a estar presente numa final da Taça Latina, sendo
que o Sport Lisboa e Benfica esteve presente em duas finais dessa competição
nos anos 50. No melhor período da sua história, na década de 60, o Benfica
esteve presente em cinco finais da Taça dos Campeões Europeus e o Sporting
Clube de Portugal em uma da Taça dos Vencedores das Taças.
Em seguida, no entanto, existiu um vazio de 15 anos de finais europeias com presença portuguesa. Este facto deveu-se,
provavelmente ao 25 de Abril de 1974 e à consequente descolonização das
províncias ultramarinas. Entre outros aspectos da vida portuguesa, também no
futebol, os clubes portugueses viram-se privados de uma das suas maiores fontes
de recrutamento de jogadores. Apenas com jogadores oriundos do nosso
“rectângulo” – política principalmente seguida pelo Benfica – a concorrência
internacional com os outros clubes europeus tornou-se desfavorável para o lado
dos portugueses. Assim, nó nos anos 80 (a assembleia geral que aprovou
jogadores estrangeiras na equipa principal de futebol do Benfica foi a 1 de
Julho de 1978!) voltou a haver presença de clubes portugueses em finais: duas
do Benfica e duas do Porto.
Já na década de 90, só o Benfica esteve
presente numa final europeia em 1990. E apenas treze anos depois, na primeira
década do século XX, o Porto foi à final da Taça UEFA em 2003 e à final da Taça
dos Campeões Europeus em 2004, conseguindo também o Sporting alcançar a final
da Taça UEFA em 2005. Por último, em 2010, Porto e Braga disputaram a final da
Liga Europa.
Hoje é dia 25 de Abril de 2013. O Benfica
joga, em Istambul, frente ao Fenerbahce, a 1ª mão da sua 13ª meia-final
europeia. Por este Portugal e Mundo fora, casas, cafés e restaurantes
vão-se encher de benfiquistas a roer as unhas à distância à espera de um
resultado positivo da sua equipa na Turquia. Em cada lugar pintado de vermelho,
mais logo a partir das 20 horas, serão gerações e sentimentos que se misturam.
Por um lado, os mais velhos, que se habituaram a ganhar e que querem relembrar
esse sentimento. Por outro, jovens benfiquistas que, pelo menos, há 23 anos que
contém ou não conhecem as suas emoções.
Tenho 29 anos. Nascido em 1984 e sócio
desde esse dia, mal me lembro da caminhada para Estugarda em 1988 e da visita
de Eusébio ao túmulo de Béla Guttmann, em Viena, em 1990. Todavia, não me
esqueço de jogos como Juventus (QF TU: V 2-1; D 0-3), Parma (MF TVT: V 2-1 ;
D 1-0), AC Milan (QF TCE: D 2-0 ; E 0-0), Fiorentina (QF TVT: D 0-2 ; V
0-1), Espanyol (QF TU: D 3-2, E 0-0), Liverpool (QF LE: V 2-1 ; D 4-1), Braga
(MF LE: V 2-1 ; D 1-0), Chelsea (QF TCE: D 0-1, D 2-1) e tantos outros
confrontos decisivos com colossos (e não colossos) europeus, que estavam perfeitamente
ao alcance da nossa equipa. Fora os anos sem sequer
ir à “Europa”, derrotas estrondosas e ter um presidente preso, foram
demasiados anos sem se fazer jus ao nosso palmarés ético e desportivo e às
histórias do passado que me tinham sido contadas enquanto ia crescendo.
Julgo que escrevo por uma geração inteira
quando afirmo que paira sobre mim uma panóplia de emoções, desejante de gritar
bem alto o dia em que o Benfica voltou. Transformar as saudades daquilo que
nunca vi num sentimento de pertença a algo enorme e grandioso é talvez o meu
maior sonho.
Acredito, sinceramente, que hoje é esse
dia. O dia da libertação do glorioso.
Caro bloguista (desculpe mas não sei seu nome):
ResponderEliminarEu nasci com O Benfica sendo Campeão Europeu. Vi jogar o Eusébio e o Simões. Bebi vezes sem conta a ideologia do Cosme Damião. Vivi no estrangeiro, sendo lá a primeira vez que vi o Glorioso ao vivo. Vivo no meio dos inimigos (assim o querem ser) corruptos (assim o querem ser). E posso-lhe dizer o seguinte: em Portugal não há melhor gente no desporto que o benfiquista. E hoje, 25 de Abril, pode ser que o Salgueiro Maia dê uma "ajudinha" a termos, finalmente, um 25 de Abril no nosso futebol, em que só deve ganhar o melhor, sem fruta de dormir! E ainda nos acusam (ESTUPIDA e IGNORANTEMENTE) de Clube do Regime! Hoje, pode ser o início, de finalmente, acabarmos com a tirania e corrupção. Pelo menos, no futebol! Saudações benfiquistas!
Obrigado pelo seu comentário ! Adorava também ter vivido esses tempos ! Um grande abraço
EliminarBoa tarde. Para divulgação .
ResponderEliminarPelo contrário, na confrontação com o governo foi o Benfica quem mais se aproximou desse papel, nomeadamente por causa do hino censurado a Félix Bermudes (Avante Benfica)…
Sim. O Benfica foi o clube que teve mais oposicionistas declarados.
E teve mesmo um presidente comunista…
Sim, o que é inédito. Manuel da Conceição Afonso é o único caso conhecido de um comunista a presidir a um clube durante o Estado Novo. Naquela altura, todos os dirigentes de instituições tinham de assinar uma declaração a dizer que não eram comunistas.
Retirado de:
http://www.publico.pt/desporto/noticia/o-futebol-e-mais-instrumentalizado-hoje-do-que-foi-durante-o-estado-novo-1592434