quinta-feira, 25 de abril de 2013

O dia da libertação


Foi há 39 anos que uma revolução sem sangue, mas de cravos, depôs o regime ditatorial do Estado Novo, vigente desde 1933, devolvendo a “liberdade” a Portugal.


A história do desporto português é uma ciência académica recente em Portugal. Ainda são poucos os estudiosos que a ela se dedicam e alguns dos que a têm feito ao longo dos anos são jornalistas que, frequentemente, não adoptam nos seus textos ou teses as correntes historiográficas mais atuais. Hoje, na feitura da história exige-se a ausência de todo o tipo de anacronismos, isto é, o regresso ao passado não pode ser feito de acordo com a realidade socialmente construída do presente, mas sim da época que se está a descrever.

Contando que as competições internacionais existem aproximadamente desde meados dos anos 50, será que nunca nenhum jornalista ou historiador do futebol português se apercebeu do porquê de a década de 70 ter sido a única sem presenças de portugueses na final de uma competição europeia?

Em 1949, o Sporting Clube de Portugal foi a primeira equipa portuguesa a estar presente numa final da Taça Latina, sendo que o Sport Lisboa e Benfica esteve presente em duas finais dessa competição nos anos 50. No melhor período da sua história, na década de 60, o Benfica esteve presente em cinco finais da Taça dos Campeões Europeus e o Sporting Clube de Portugal em uma da Taça dos Vencedores das Taças.

Em seguida, no entanto, existiu um vazio de 15 anos de finais europeias com presença portuguesa. Este facto deveu-se, provavelmente ao 25 de Abril de 1974 e à consequente descolonização das províncias ultramarinas. Entre outros aspectos da vida portuguesa, também no futebol, os clubes portugueses viram-se privados de uma das suas maiores fontes de recrutamento de jogadores. Apenas com jogadores oriundos do nosso “rectângulo” – política principalmente seguida pelo Benfica – a concorrência internacional com os outros clubes europeus tornou-se desfavorável para o lado dos portugueses. Assim, nó nos anos 80 (a assembleia geral que aprovou jogadores estrangeiras na equipa principal de futebol do Benfica foi a 1 de Julho de 1978!) voltou a haver presença de clubes portugueses em finais: duas do Benfica e duas do Porto.

Já na década de 90, só o Benfica esteve presente numa final europeia em 1990. E apenas treze anos depois, na primeira década do século XX, o Porto foi à final da Taça UEFA em 2003 e à final da Taça dos Campeões Europeus em 2004, conseguindo também o Sporting alcançar a final da Taça UEFA em 2005. Por último, em 2010, Porto e Braga disputaram a final da Liga Europa.

Hoje é dia 25 de Abril de 2013. O Benfica joga, em Istambul, frente ao Fenerbahce, a 1ª mão da sua 13ª meia-final europeia.  Por este Portugal e Mundo fora, casas, cafés e restaurantes vão-se encher de benfiquistas a roer as unhas à distância à espera de um resultado positivo da sua equipa na Turquia. Em cada lugar pintado de vermelho, mais logo a partir das 20  horas, serão gerações e sentimentos que se misturam. Por um lado, os mais velhos, que se habituaram a ganhar e que querem relembrar esse sentimento. Por outro, jovens benfiquistas que, pelo menos, há 23 anos que contém ou não conhecem as suas emoções.
Tenho 29 anos. Nascido em 1984 e sócio desde esse dia, mal me lembro da caminhada para Estugarda em 1988 e da visita de Eusébio ao túmulo de Béla Guttmann, em Viena, em 1990. Todavia, não me esqueço de jogos como Juventus (QF TU: V 2-1; D 0-3), Parma (MF TVT: V 2-1 ; D  1-0), AC Milan (QF TCE: D 2-0 ; E 0-0), Fiorentina (QF TVT: D 0-2 ; V 0-1), Espanyol (QF TU: D 3-2, E 0-0), Liverpool (QF LE: V 2-1 ; D 4-1), Braga (MF LE: V 2-1 ; D 1-0), Chelsea (QF TCE: D 0-1, D 2-1) e tantos outros confrontos decisivos com colossos (e não colossos) europeus, que estavam perfeitamente ao alcance da nossa equipa. Fora os anos sem sequer ir à “Europa”, derrotas estrondosas e ter um presidente preso, foram demasiados anos sem se fazer jus ao nosso palmarés ético e desportivo e às histórias do passado que me tinham sido contadas enquanto ia crescendo.
Julgo que escrevo por uma geração inteira quando afirmo que paira sobre mim uma panóplia de emoções, desejante de gritar bem alto o dia em que o Benfica voltou. Transformar as saudades daquilo que nunca vi num sentimento de pertença a algo enorme e grandioso é talvez o meu maior sonho.
Acredito, sinceramente, que hoje é esse dia. O dia da libertação do glorioso.



3 comentários:

  1. Caro bloguista (desculpe mas não sei seu nome):
    Eu nasci com O Benfica sendo Campeão Europeu. Vi jogar o Eusébio e o Simões. Bebi vezes sem conta a ideologia do Cosme Damião. Vivi no estrangeiro, sendo lá a primeira vez que vi o Glorioso ao vivo. Vivo no meio dos inimigos (assim o querem ser) corruptos (assim o querem ser). E posso-lhe dizer o seguinte: em Portugal não há melhor gente no desporto que o benfiquista. E hoje, 25 de Abril, pode ser que o Salgueiro Maia dê uma "ajudinha" a termos, finalmente, um 25 de Abril no nosso futebol, em que só deve ganhar o melhor, sem fruta de dormir! E ainda nos acusam (ESTUPIDA e IGNORANTEMENTE) de Clube do Regime! Hoje, pode ser o início, de finalmente, acabarmos com a tirania e corrupção. Pelo menos, no futebol! Saudações benfiquistas!

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    1. Obrigado pelo seu comentário ! Adorava também ter vivido esses tempos ! Um grande abraço

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  2. Boa tarde. Para divulgação .

    Pelo contrário, na confrontação com o governo foi o Benfica quem mais se aproximou desse papel, nomeadamente por causa do hino censurado a Félix Bermudes (Avante Benfica)…
    Sim. O Benfica foi o clube que teve mais oposicionistas declarados.

    E teve mesmo um presidente comunista…
    Sim, o que é inédito. Manuel da Conceição Afonso é o único caso conhecido de um comunista a presidir a um clube durante o Estado Novo. Naquela altura, todos os dirigentes de instituições tinham de assinar uma declaração a dizer que não eram comunistas.

    Retirado de:
    http://www.publico.pt/desporto/noticia/o-futebol-e-mais-instrumentalizado-hoje-do-que-foi-durante-o-estado-novo-1592434

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