quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A cabeça não serve apenas para ter cabelo

Por vezes resolve-se muitos dos problemas ou lacunas nas organizações usando um simples atributo que supostamente foi dado a todos os seres humanos mas cuja utilização para os lados da Luz teimam em esquecer: Pensar.

Tomemos como base o jogo de ontem:
 - Todos sabemos que Roberto é uma nódoa nas bolas aéreas, pelos vistos e apesar de termos tido durante o encontro vários livres laterais que proporcionavam essa situação, optámos por outras soluções. Quando em desespero o fizemos, deu brinde;
 - Achou-se que um jogo da Liga dos Campeões a perder ao intervalo e a chover a potes seria o momento ideal para lançar Ivan Cavaleiro;
 - Tentar correr com a bola com o relvado empapado em vez de carregar bolas aéreas sobre a baliza (dejá vu);
 - Quando o relvado secou e a bola já rolava manteve-se o estilo de jogo de chutão para frente;
 - As declarações de JJ após o jogo;
 - A organização do jogo decidiu fechar uma saída natural do estádio, impondo como alternativa umas escadas muito mais pequenas, o que do ponto de vista da segurança é, no mínimo, duvidoso.
 
Ao pensarmos nestes e em muitos outros factores conclui-se que o simples uso desse belo atributo que é pensar, inibiria determinados acontecimentos indesejáveis e é no uso dessa faculdade que me dou ao trabalho de tentar perceber o porquê de Matic e Lima parecerem jogadores do Cinfães (“uma boa equipa, muito bem treinada”, logo não há desprimor na afirmação). Diria que será pelo mesmo motivo que não corro maratonas ou que quem as corre a seguir às mesmas não lhe apetece efectuar outra actividade física, mas lá está, sou eu a pensar e isso já é um assombro para Benfiquistas da estirpe dos que “dirigem” o nosso clube.  
Que comece o campeonato de Basquetebol, ao menos parece-me que é uma modalidade onde existe malta que pensa e age em conformidade. Pelo menos, por vezes, pensam que determinado jogo é fácil e perdem-no, mas felizmente voltam a pensar e ganham os seguintes.

Pensar? Parecendo que não, dá jeito

sábado, 5 de outubro de 2013

Sem querer, falou mais do que devia...


Em vésperas de implantação da república em Portugal e enquanto o Sport Lisboa ia dando os primeiros passos, os líderes da Carbonária encontravam-se deveras preocupados com o (in)sucesso da ação. Existem várias teorias históricas sobre o assassinato de Miguel Bombarda que ocorreu no dia 3 de Outubro de 1910. Sem dúvida de que foi baleado à “queima roupa” por um doente a quem tinha dado alta recentemente, mas o facto deste ser Tenente do Exército tem levantado algumas dúvidas sobre o médico psiquiatra ter sido ou não uma das primeiras vítimas da revolução republicana.

Não obstante, a história que tem sido lembrada é a de que, nas horas que se seguiram ao disparo, Miguel Bombarda estava mais preocupado com o destino das cartas que tinha em sua posse, dotadas de informações extremamente valiosas sobre a revolução em curso, do que com o seu estado de saúde crítico.

A posse de informações nas mãos certas das pessoas certas é demasiado importante em qualquer momento crítico de um país ou instituição.

Quis a coincidência que na véspera de mais um aniversário da república, Pragal Colaço, no seu conhecido estilo, viesse falar aos benfiquistas sobre conspirações, revoluções e crises no nosso clube. No entanto, por estranho que pareça, este homem boçal e de cabelo ruivo, normalmente genial na construção da intriga, desta feita “embrulhou-se” demasiado no discurso e acabou por, de certeza absoluta, falar demais do que inicialmente previra.

Como sempre, o objectivo principal era o de alarmar os benfiquistas sobre o “sistema”, encontrado nele todas as justificações para os maus resultados desportivos que já trazem décadas de vida. Agora a explicação está nos interesses económicos e financeiros que gravitam na órbita da  Benfica TV.

Reconheço que enquanto se foi referindo à Benfica TV e a quebra do monopólio da empresa rival, encontrei-me a concordar com alguns dos pontos, lembrando-me que o mesmo aconteceu com João Vale e Azevedo. O ex-sócio e presidente começou em queda na comunicação social (excepto a SIC, que passou a transmitir os jogos do Benfica) no dia em que, literalmente, rasgou o contrato com a Olivedesportos, acabando por ser substituído por Manuel Vilarinho, Luís Filipe Vieira e companhia que, de imediato, renovaram o contrato televisivo e anteciparam todas as receitas.

O problema foi quando a Benfica TV, na sua linha editorial ‘caseira’ que já todos conhecemos e que não vale a pena referir, arriscou e deu demasiado espaço televisivo a Pragal Colaço. Inevitavelmente, tal a sensibilidade do assunto, o ponta-de-lança do Vieirismo não esteve à altura e confundiu tudo.

Sem querer e cada vez mais baralhado sobre um assunto que estava perceptível que não dominava, saltou da Benfica TV para a SAD e começou a falar demasiado em “árabes” e “angolanos” que querem “esvaziar o ovo do Benfica” e “comprar este clube” a um “preço reduzido”.

Para quem está atento, a equação é simples. O clube e a SAD têm acumulado prejuízos todos os anos e todo o património foi dado como garantia sobre os empréstimos pedidos. No entanto, ao contrário dos últimos anos que obtiveram altas fontes de financiamento através da venda de jogadores, este Verão não foi realizado nenhum encaixe financeiro. Também a aposta da transmissão dos jogos na Benfica TV, mesmo que anualmente atinja valores razoáveis, não permitiu uma elevada quantia de antecipação de receitas com a qual os órgãos sociais gostariam de contar. Acresce a isto que os maus resultados da equipa de futebol estão a fazer as restantes formas de faturação, como as assistências no estádio, descer drasticamente. Provavelmente, tudo isto somado não tem permitido que o Benfica consiga fazer face às suas obrigações.

Com efeito, a teoria da conspiração de Pragal Colaço é, de novo, um alerta aos sócios. Ou não se queixam da venda de jogadores e continuam a ir ao estádio e a comprar todo o merchandising  que existe e percebem que a justificação de não ganharmos é por causa do "sistema" que está a responder ao ataque ao mercado por parte da Benfica TV, ou prepararem-se para a ideia de que o SLB ou vende o seu capital enquanto pode e vale mais ou "os conspiradores e papões do dinheiro vêm cá para ficar com isto".

Sem se ter apercebido daquilo que disse, Pragal Colaço desmontou o embuste completo do caminho que há muito tempo tem sido traçado e com os visíveis resultados financeiros e desportivos! O notável “Vieirista” deveria ter tido muito mais cuidado em não confundir a Benfica TV com os capitais próprios do Benfica Clube na SAD, tal como o fez no minuto 10:30 do seu monólogo. Trata-se de uma informação demasiado valiosa, que o seu “dono” não vai gostar muito que se ande a falar dela por aí.

Para quem se mostrou tão preocupado com a “revolução” que se prepara logo a seguir a um possível mau resultado do jogo de Domingo no Estoril, Pragal Colaço, convencido do seu crédito junto dos benfiquistas e de que pode falar de tudo, deu um tiro muito certeiro e, simultaneamente, muito sério... Mas foi no seu próprio porta-aviões. 

http://www.youtube.com/watch?v=85J2d7QknZ0&feature=youtu.be


quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Em jeito de rescaldo

Parece agora evidente que a renovação com Jorge Jesus foi um erro. Verificou-se o pior cenário possível - a equipa arrastou consigo a instabilidade e falta de confiança resultante do desastroso final da época passada.

No entanto, devo dizer que no dito final da época passada não era evidente para mim qual a melhor possibilidade para o clube - JJ ficar ou JJ sair. Sendo que, na segunda hipótese, talvez fosse tarde para encontrar um treinador melhor.

Há anos, quando da desastrosa segunda época de JJ no Benfica, achei que ele deveria sair. O facto é que não saiu, e depois disso até deu alguns sinais de ter aprendido com os erros.

No entanto, esta época parece para já ir pelo caminho dessa nefasta segunda época. Espero estar enganado.

Notem que perder com o PSG em Paris era esperado e normal. O problema não é esse. O problema é a pobreza de exibições e a aparente falta de crença e atitude da equipa, que não parecem prenunciar uma melhoria para breve.

Alguns erros começam a ter contornos irreais, como o facto de ano após ano não se ter preenchido o lugar de defesa esquerdo com um jogador de qualidade (isto já começa a ser uma piada gasta e de mau gosto, tanta gente já o disse e desde há tanto tempo em jornais, blogs, cafés e etc por esse país fora). Parece que há no Benfica uma crença de que é um lugar de menor importância e que pode ser preenchido com qualquer remendo. O resultado está à vista - a quantidade de jogos e de pontos que os erros de Emerson, Melgarejo, Sequeira nos têm custado (ontem o primeiro golo nasce do lado esquerdo da nossa defesa, como todos nos lembramos).

A isto junta-se uma quebra de rendimento do Maxi que se prolonga e prolonga, e um André Almeida que num nível como o de ontem tem problemas - ou seja, aos problemas de há muito na lateral esquerda juntam-se agora os da lateral direita, até porque não temos extremos que façam o trabalho de ajuda defensiva nas alas que poderia minimizar estes problemas.

Finalmente, o meio campo. O ano passado Jesus fez um excelente trabalho ao adaptar Matic e Enzo às posições 6 e 8. Pois este ano resolve desfazer o que estava feito e tentar que de um momento para o outro Enzo volte a ser ala e MAtic jogue mais avançado. Duas alterações de uma vez numa zona fulcral. Eu precebo que a onda de lesões condicionou as escolhas, mas sinceramente acho que é melhor nestes casos quando faltam jogadores fazer avançar os suplentes directos, até da equipa B se necessário, do que estar a mudar tudo de uma asentada. Viu-se, aliás, a melhoria da equipa ontem quando Matic e Enzo voltaram aos seus lugares habituais - embora reconheça que por essa altura o PSG já estava em ritmo de treino e controlo de jogo.

Um dos pontos fortes de JJ é o trabalho técnico e táctico com os jogadores, que lhes permite evoluir e até adaptarem-se a posições diferentes. Veja-se a evolução de Fábio, Matic, Enzo; veja-se o jogador cada vez mais completo que é Cardozo; há vários exemplos.

Só que isso tem um reverso da medalha. JJ por vezes esquece-se de duas coisas; uma, é de que nem tudo resulta com todos os jogadores; outra, é que as adaptações precisam de tempo para serem trabalhadas, e fazê-las nos jogos a sério pode ter consequências nefastas, sobretudo quando se tentam fazer muitas ao mesmo tempo.

Foi por isso que a aposta no Roderick para reforçar o meio campo o ano passado no campo do fcp deu no que deu, e tentar que Markovic seja extremo, que Duricij seja já o segundo avançado da equipa ou que Matic e Enzo joguem noutras posições, tudo de uma vez ainda por cima, está a ter os resultados que estão à vista. A equipa perde rotinas, desiquilibra-se, perde confiança e perde eficácia.

Não estou com isto a dizer que a culpa do que se está a passar seja toda do treinador. Mas despedir um treinador não é um acto de punição - é um acto de gestão que tem de ter em conta principalmente o que parece ser a melhor solução para o Clube e para a Equipa.

A equipa está a precisar de ser sacudida, acordada, e sobretudo liderada - não me parece que JJ seja já a pessoa certa para o fazer.