Nem uma vitória soberana em Paços de Ferreira com um Lima cheio de sentido de oportunidade, que nos permitiu alcançar o primeiro lugar no Campeonato, foi capaz de me conter o sangue quente. Mais de 48 Horas já s
e passaram sobre a Reunião Magna do clube e, mesmo a pedido do Presidente da Mesa da Assembleia Geral de que a Direção retire as devidas ilações, nem uma única alma dos órgãos sociais executivos foi capaz de se pronunciar sobre os resultados. Ao invés, são crescentes por toda a comunicação social os apoios manifestados a uma recandidatura do atual Presidente.
Começou por ser João Rodrigues, ilustre consócio benfiquista, candidato a Presidente do Conselho Fiscal na lista de Luís Tadeu em 1997, que, apesar de ter estado a mais de 30 Km do Pavilhão Nº2 do Estádio da Luz na última quinta-feira, conseguiu ouvir, em alto e bom som, o famoso “petardo”, mas não lhe foi audível o agitador “pouco barulho” de um Vice-Presidente da Direção no palanque. Apesar de "tomar, igualmente, a árvore pela floresta e a floresta pela árvore" e não mostrar a consciência de que os atos de alguns não são o espelho de todos os intervenientes na Assembleia, daqueles que se pronunciaram ontem na Comunicação Social – sobre os restantes pronunciar-me-ei em seguida – é o único, no entanto, que merece todo o respeito na opinião emitida, uma vez que fui o único também que o fez na sua livre qualidade de associado.
Maxi Pereira é, neste momento, o capitão do clube dentro do campo devido à ausência de Luisão. Merece a braçadeira e admiro muito a sua entrega de águia ao peito, mas há assuntos que não lhe dizem respeito. E ao treinador Jorge Jesus a mesma coisa. Tratam-se de dois funcionários, que recebem um ordenado para trabalhar no clube que tiver o Presidente que os sócios elegerem. Não é preciso voltar muito anos para trás para saber reconhecer uma excelente atitude nos silêncios de João Vieira Pinto ou para perceber aquilo que aconteceu a Michel Preud’Homme...
É certo que esta crítica poderia ser mais extensa, caso se desconfiasse de uma ordem superior. Preferirei não especular, contudo, perante os maus exemplos recentes dos comentários na Benfica TV, dos “detratores” na capa do Jornal centenário do clube ou até o apagar constante de “posts” na página oficial do Facebook que contém comentários indesejáveis, já nada é capaz de me admirar num clube cujos órgãos de comunicação estão ao serviço dos órgãos sociais eleitos e não de uma instituição cujo órgão de deliberação máxima é a sua Assembleia Geral.
Não menos vergonhosa foi ainda a atitude de um caro consócio, de seu nome Fernando Valente, Presidente de algumas Casas do Benfica, um senhor que sozinho, no próximo dia 26 de Outubro, terá nada mais nada menos do que praticamente 150 votos na sua mão, caso se contem os das duas casas que preside e se for, igualmente, um sócio com direito aos poderosos 50 votos que eu também tenho e abomino. Todavia, o mais interessante é que os 100 votos correspondentes às duas casas de que se afirma Presidente, - e também os das outras duzentas e noventa e oito Casas como faz questão de referir - já estão, supostamente, decididos. E isto numa altura em que se desconhecem o número de listas candidatas e, consequentemente, os respectivos membros que compõe as ditas casas não os ouviram e, com certeza, nem se pronunciaram... Estas declarações foram, no mínimo, um atentado à solidariedade institucional que lhes cabe ter por todos os associados, para nem sequer falar nas palavras soberania, justiça, associativismo ou liberdade.
Já tive oportunidade de me pronunciar sobre a Assembleia Geral da passada semana e quais aquelas que julgo que deveriam ser as consequências e ilações a retirar. Pouco me importa a concórdia ou a discórdia das minhas posições. De resto, até sei reconhecer que, se o atual Presidente se recandidatar, contra uma lista que não contenha Bagão Felix num órgão social, irá, muito provavelmente, vencer as eleições.
Contudo, por muito menos descontentamento, outros Presidentes, como José Ferreira Queimado, não se recandidataram. O Benfica não é um qualquer Governo de Portugal. O Benfica é movido por paixão e julgo que um Presidente não pode criar separatismo quando a sua figura e o seu nome não são consensuais de forma tão evidente. O que representará 51 % ao pé da paz social no clube que se quer reinante ?! Assim, abrir o clube à discussão, de forma atempada, livre e democrática, dando tempo para que todas as listas que decidirem avançar se constituam e, garantindo ele próprio por fazer dos órgãos de comunicação do clube um espaço que todas elas o pudessem utilizar, de igual forma, para esclarecer os sócios dos seus próprios projetos, seria a saída pela porta certa e a demonstração de um “sentido de clube” que, em vários momentos ao longo dos seus três mandatos, soube, reconhecidamente, embora nem sempre, ter.
Embora o último parágrafo sonhador, todos sabemos que nada disto irá acontecer. Luís Filipe Vieira irá, quase de forma certa, continuar calado e a receber apoios diariamente. Irá concorrer sozinho e com a presença, na sua lista, de dois opositores de 2009, cujos estatutos sociais, desde então, mudaram.
Com sinceridade, quem acredita e vende a história do "mudar por dentro" são só aqueles que ainda têm peso na consciência ao oferecer, numa bandeja, a alma ao diabo. A partir desse momento, para efeitos práticos, esses “senhores”, que integrarão essa lista, passarão a concordar com a política de comunicação da Benfica TV, com o nível boçal dos nossos representantes, com os estatutos em vigor, com o passivo astronómico e com “o Benfica ser um clube para valorizar jogadores, não para ganhar títulos”. No meu entender, esses “senhores”, se queriam ter o respeito dos sócios, tinham de seguir o caminho da coerência e fazer a luta onde ela deve ser feita (nas urnas)... E perder as eleições - conquistando o devido espaço - se fosse preciso !
Restará aos outros elementos do conhecido “Movimento Benfica Vencer Vencer” saberem distanciar-se no devido tempo, que teima em não chegar. E aqui, novamente, o “sentido de clube” também exige uma candidatura deste Movimento. Mesmo que não existam condições de vitória (não haverá mesmo?), os seus membros devem avançar, com nível e elevação, para respeitar o clube e as suas tradições. A formação para a cidadania - outro dos desígnios do Sport Lisboa e Benfica, que não serve apenas para “jogar futebol” - deve partir de quem é capaz de se fazer ouvir. A hora exige ! E, se por um lado, não lhes será incutida a responsabilidade caso não vençam, por outro, o mesmo não poderá ser dito em relação ao legado que, caso não se candidatem, abandonam.
“A penalização por não participares na política é seres governado pelos teus inferiores”, Platão escrevia. Assim, encontro-me cansado de “ouvir falar” em jantares, fiquei obtuso com o espelho de falta de cultura associativa e fico, interminavelmente, impressionado com a infindável gestão de silêncios por parte de toda a gente.
Acredito, honestamente, que, no Benfica, uma ‘Nova’ Farmácia Franco deveria ser feita com todas as gerações. Julgo, no entanto, que, cada vez mais e perante os acontecimentos, não tardará a chegar o tempo de serem outros, bem mais novos, a fazer renascer, de novo, o mais nobre espírito benfiquista, a refundar os valores do Glorioso e começar no Benfica algo que Portugal tanto precisa: a renovação das classes dirigentes.
Há “jovens”, penso em abstracto, por esse Mundo benfiquista fora, tão mais bem preparados para a gestão adequada e com tanta mais paixão e vontade de vencer. Contudo, esta força só estará apta quando, na defesa da grandeza daquilo que os une, se deixarem de chamar “abutres”, “cegos” e “ridículos” uns aos outros por pensarem diferente.
Se são o futuro, sejam desde já o exemplo. É este o verdadeiro apelo.
E que isso concretizar-se seja a maior vitória destas eleições.