quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O 29

Decorria já o tempo de compensação de um jogo onde a vitória estava a ser arrancada a ferros. Estava 1-0, golo marcado ao minuto 91 por Fernando Aguiar. Queimava-se já os restantes minutos de forma a trazer os 3 preciosos pontos para a Luz, quando sorriste para nós. Sorriste para o Universo Benfiquista, sorriste para o mundo. Ofereceste-nos o teu sorriso tímido e sincero. Concedeste-nos um segundo de aparente paz, para no momento a seguir nos paralisares de medo e incredulidade.

Ainda hoje, me recordo com dor, de ouvir o Pateiro a relatar o jogo na TSF, e surpreender-se com a tua queda, e a contagiar-me com o pânico do momento. Lembro-me da minha semi-tranquilidade quando soube que já estavas no hospital e que tinhas levantado a mão ao entrar para a ambulância, em jeito de agradecimento a todos os que cantavam por ti. Julgava eu que tudo não tinha passado de um susto, um enorme susto. Puro engano, engano esse que durou um noite de sono. Mal sabia eu, ao acordar de manhã cedo, a cruel verdade. Levantei-me, dirigi-me ao quarto dos meus pais, como era rotina aos 12 anos de idade, e juntamente com o bom dia, perguntei à minha mãe: "Então o Feher, ficou bem?". E com a pergunta veio a resposta inesperada, dada pela minha mãe a engolir em seco, e a perceber como haveria de me dar uma noticia tão trágica como aquela. Senti-me petrificado e sem saber o que fazer, o que pensar, o que dizer. Fechei-me em silêncio, e sofri. Sofri como nunca sofri. Porque felizmente, até hoje, não tive a infelicidade de ficar sem algum familiar ou amigo, e foste tu, Miki, quem me fez sentir o sofrimento de perder alguém próximo, e de o ver desaparecer para sempre.

Não eras um idolo, não eras um prodigio. Mas vestias o Manto Sagrado. Equipavas de encarnado, e eras o nosso camisola 29. E isso era a única coisa que nos ligava e o que nos fazia próximos, mas por mais simples que fosse esse elo de ligação, ao mesmo tempo era o maior elo que poderia haver. Eras um dos nossos, e foi sem um dos nossos que ficamos naquele dia. Foi duro, extremamente cruel, mas digo-te Miki, uniu todo o nosso Universo Benfiquista como antes não tinha visto. Uniu-nos em torno de uma dor conjunta, que acredito eu, foi o catalisador para a vitória na Taça dessa época, e do Campeonato no ano seguinte. E foi por ti, que toda a Alma Benfiquista derramou uma lágrima imensa e sofreu.

Hoje, 8 anos depois, o dia 25 de Janeiro de 2004 continua e será sempre recordado, como o dia em que te despediste do mundo a sorrir.





PS: Como não só de marcos tristes se faz o dia de hoje, deve-se também salientar e parabenizar o nosso "King", Eusébio, pelo seu aniversário. E que a eternidade o acompanhe!

1 comentário:

  1. Nunca nos esqueceremos dessa noite fatídica nem das manifestações de benfiquismo que se seguiram! Paz à sua alma!

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