quarta-feira, 20 de março de 2013

A estância da madeira


O Benfica é um clube. O Sporting é outro. Sei que este espaço é supostamente de dedicação exclusiva à vida encarnada. No entanto, o momento que o Sporting atravessa merece reflexão acerca do futebol português e o Benfica não se deve abster de um papel ativo de ajuda ao seu rival .

(Peço ao leitor que não se precipite com a frase anterior e que leia até ao fim, por favor!)

Não me parece que restem dúvidas de que o desaparecimento do Sporting Clube de Portugal do topo da hierarquia desportiva nacional vai trazer consequências negativas para o desporto em Portugal e para todos os clubes que rivalizaram com ele nos últimos anos. Será má a perda de competitividade e rivalidade. Será muito má para a produção de jovens futebolistas promissores e portugueses. E será péssima a obtenção de receitas oriundas das mais diversas empresas e instituições.

Os momentos eleitorais, fruto de discussões internas saudáveis e de propostas responsáveis e coerentes, são alturas de os sócios renovarem as suas esperanças, optando, através do poder do voto, pelas listas que consideram mais credíveis e que lhes oferecem maiores garantias de poderem ambicionar um futuro mais risonho.

José Peyroteo Couceiro, ou só José Couceiro para aqueles que ainda se lembram da sua enorme carreira de treinador como “Mourinho insuflado”, foi o último a aparecer na corrida e é o candidato pela Lista C. Associado à banca e à continuidade, pretende fazer passar uma mensagem de que se trata de uma figura institucional de respeito e com um apelido de longa tradição leonina. Todavia, não passa de uma figura pesada e aborrecida, mostrando-se rodeado de uma equipa de amadores que nem um site na internet foi capaz de construir, o que é o mínimo que se exigiria numa campanha eleitoral do século XXI. Convencido de que está cheio de ideias e com a posição sincera da dilapidação de património para a reestruturação financeira, não promete grandes resultados desportivos, embora diga que a “crise financeira é resultado da má gestão desportiva”. Vá se lá entender um palavroso destes que nos primeiros cinco minutos de debate ontem na Sic Notícias só foi capaz de dizer e passo a citar:

“Boa noite. Um clube da nossa dimensão é um clube que tem a sua identidade, tem a sua história. (...)Quando um clube da nossa dimensão, uma instituição como o Sporting Clube de Portugal passa pela maior crise de sempre, evidentemente, que há questões que se levantam. Agora, não podemos (não devemos até!) ter qualquer dúvida sobre a nossa identidade, sobre aquilo que é ser Sporting e sobre a dimensão, a grande dimensão europeia e mundial que o Sporting Clube de Portugal tem.”

Isto é, mais uma vez não disse N-A-D-A! Mas faz questão de continuar na mesma bitola na segunda intervenção:

“Acho que todos nós temos de ser responsáveis e quem é candidato à Presidência do Sporting Clube de Portugal tem que ser responsável. E sendo responsável, evidentemente, que tem que contactar e que tem que conversar com os nossos credores. E enquanto, de facto, nós não estabelecermos todos esses contactos e não há, de facto, entendimentos em relação a isso... Eu acho que nós temos de ser responsáveis  e o que aconteceu aqui foi, de facto, ser responsável em relação a estas matérias.”

Mais uma mão cheia de nada, recheada de “de factos” e “evidentementes”, que podem ser confirmados aqui http://www.youtube.com/watch?v=hm4JtQuCMKs a partir do minuto 3:22 e do 15:57.

Pobre Sporting quando é este o candidato que vai a frente nas sondagens e que a banca escolheu para representar os seus associados!

Por outro lado, o fanfarrão Bruno de Carvalho e a sua cultura de exigência máxima, da qual se esqueceu  nas eleições passadas para pedir a recontagem dos votos (porque será?), pretendem uma ruptura completa com a política dos anos recentes, dando grandes mostras de educação e respeito institucional a todos níveis. Num vídeo (disponível através de http://cabelodoaimar.blogspot.pt/2013/03/que-paneleirote.html) que circula pelas redes sociais realizado numa qualquer sessão de esclarecimento da sua candidatura afirma, despudoradamente, que com ele “ninguém goza com o Sporting” e que até o CSKA mandou tirar as fotografias do seu maior título do historial quando ele lá foi. Com uma voz carregada de basófia, típica de quem se julga o maior da sua aldeia, inclusivamente insinua gestos com as mãos que são frequentes é nas tascas.

Sem se aperceber sequer de que na mesma história, que dura 7 minutos, fala em 3 jogos e em 3 derrotas do “seu” Sporting (duas em casa no futebol e uma do futsal na “sua” Mother Russia) deixou mesmo os benfiquistas, que estão a pensar ir ver o Benfica-Sporting ao estádio da Luz no próximo mês,  todos cheios de miaúfa com a sua presença lá e a prepararem-se para ficar caladinhos quando o Cardozo voltar a marcar...

Sobra apenas o insider Carlos Severino que, bem ou mal, com ideias que ficarão certamente por provar se eram boas ou más, é bom rapaz, mas sem a competência necessária para mudar o Sporting. Foi dirigente nos tempos da última vitória no campeonato nacional, mas com aquela camisa de manga curta e o cabelo cortado em Photoshop na fotografia oficial de campanha ficou logo provada a organização da equipa que tem por trás: http://www.facebook.com/photo.php?fbid=349722278470337&set=a.330869853688913.71657.330869703688928&type=1&theater

É certo que as atuais classes de dirigentes, tanto no futebol como na política nacional, ficam muito aquém de outros tempos. Mas o Sporting abusa.

Com efeito, tenho ouvido sportinguistas falar que a solução poderá passar pela insolvência e refundação, começando pela 2ª distrital com a actual Equipa B. Nesse caso, a pergunta que se poria é novamente com que dirigentes (uma situação dessas obriga a competência e dedicação redobradas) e com que estádio. E julgo que é neste último ponto que o Benfica poderia (deveria até!) ajudar, caso vendam algum jogador para nos pagar os estragos do incêndio no ano passado ou pelo menos peçam perdão publicamente de forma a contribuir para a educação dos adeptos de futebol nos estádios.

O campo das Amoreiras foi o primeiro construído de raiz pelo Sport Lisboa e Benfica nos anos 20. Foi novamente Cosme Damião, funcionário da Casa de Palmela, quem conseguiu os terrenos para a construção do estádio, que seria autorizada, por aclamação em assembleia geral, a 4 de Fevereiro de 1923.
 A saída do campo de Sete Rios, em 1917, devera-se a um aumento incomportável da renda, passando o clube para um campo mais modesto em Benfica. No entanto, em 1923, o SLB tinha sido novamente obrigado a deixar este espaço por decisão da Câmara que pretendia construir uma rua de ligação entre a estrada de Benfica e a estrada Nacional e durante algum tempo, teve de jogar na Palhavã enquanto a obra das Amoreiras não era concluída. Finalmente, na inauguração, a 13 de Dezembro de 1925 perante 15 mil adeptos, uma vitória das quartas categorias, por 8-1, ao Casa Pia.


Surpreendentemente, nem 15 anos volvidos desta inauguração, o Estado decidiu construir a autoestrada Lisboa-Jamor e os terrenos das Amoreiras foram expropriados ao Sport Lisboa e Benfica (correspondem ao que conhecemos hoje como Avenida Duarte Pacheco). De facto, o valor recebido foi muito inferior ao que os terrenos valiam e à dívida existente, o que obrigou o Benfica a mudar de campo novamente até ao ano de inauguração do estádio da Luz, em Carnide.


Num período que durou de 1940 até 1954, a opção escolhida foi o Campo Grande, através de um terreno secundário arrendado à Câmara Municipal de Lisboa com a anuência do Sporting, que durante anos foi alcunhado pelos leões de “estância da madeira” como forma de gozar com os benfiquistas por não terem a sua própria casa.


Como Cosme Damião disse em tempos: “O Sporting tem dinheiro. Nós temos dedicação. No imediato o dinheiro vence a dedicação. No futuro, a dedicação goleia o dinheiro”.  Teve razão. E como ser do Benfica é ser diferente, julgo que é tempo de saldar essa “dívida” e de nos oferecermos, sem contrapartidas, para lhes emprestar o nosso querido Campo do Seixal ao domingo à tarde.




2 comentários:

  1. Parabéns pela análise feita, e gostei imenso de ser referido que" Insultos não serão publicados e MAIS IMPORTANTE ainda, Mensagens anti- Benfica também não. Pois vê-se com alguma regularidade gentinha infiltrada, só a meter veneno. Mais uma vez Parabéns.

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