Fim de Festa
Terminou
a época, a quarta do ciclo Jorge Jesus, uma época sem glória e sem um
único título, a mais insólita que tenho memória, aquela que nada
prometia e que tudo pareceu conquistar. Estivemos perto mas nos quatro
últimos jogos e fatídicos descontos, empatamos um e perdemos três! Que
dizer de uma época destas, que ilações tirar, que soluções para o futuro
próximo... já em Julho a bola estará aí a rolar.
Dizer que dói
muito voltar a perder, especialmente para os porcos, que esta massa
adepta encarnada não merecia, foi excecional no apoio e demonstrou em
Amesterdão que não há muitos clubes no mundo com esta grandeza, com esta
paixão. Com esta nobreza até, patente na despedida do campeonato com um
estádio repleto a aplaudir ou na festa final da taça, numa das maiores
tardes de convívio das últimas décadas, depois de tamanhos desaires, é
obra que só está ao alcance dos maiores.
Devemos analisar o
que realmente é importante, deixar a emoção e o fracasso à saída do
estádio, relativizar fatores fortuitos de uma bola que entra ou sai ao
lado, qualquer que seja o minuto.
Objetivamente o Benfica
ficou em segundo lugar nas três principais competições que disputou até
ao fim. Não é uma má performance muito menos atendendo ao passado
recente. Uma final europeia é algo marcante mas a grandeza do Benfica
ambiciona mais, muito mais... Mas vamos por partes...
Primeiro
> Disse-o antes do último jogo, não seria a Taça a salvar a época,
queríamos mesmo era o Campeonato ou a Liga Europa, pelo que não é grande
drama ter perdido a final do Jamor, para mais o Guimarães mostrou um
povão fantástico, não os vi a arremessar calhaus mas em família, com
mulheres e crianças em cânticos, coreografias e muita paixão pelo
futebol, muito bonito de ver. Já agora uma farpa aos palermas
sportinguistas (reforço, somente aos palermas) que com tantos festejos
nem se lembraram que este Guimarães não é o Braga e, se engata, pode
passar a terceiro grande com uma perna às costas!
Segundo >
Não gostei nada da entrada, muito menos da saída da equipa no Jamor,
desgarrada sem união, já não é a primeira que em situações de fracasso,
fica à vista a falta de cultura de clube. É a Direção que tem
responsabilidade, mais uma vez tem de impor os valores adequados à sua
grandeza. Já não estamos à espera que apareçam Borges Coutinhos à frente
dos destinos do clube mas que diabo, há mínimos! Meto no mesmo saco
toda a trapalhada do Cardozo com o Jesus, nem sei bem quem tem razão,
pode ter estoirado a panela ao paraguaio, não deve ser fácil aturar o
“catedrático” há 4 anos. Sou muito crítico do Tacuara como sabem mas a
verdade é que desde a meia final com o Fenerbahçe, ele subiu de produção
e esteve à altura, ao contrário do Lima que se foi abaixo das canetas. O
Cardozo tinha pois, alguma razão moral para estar fora dele, vejo até,
algum sentir a camisola que me agrada mas mais uma vez a estrutura
mostrou-se fraca a salvaguardar episódios deste nível. Igualmente
fraquíssima a saída antes da entrega da taça e pior, não haver alguém a
reunir a equipa com a humildade e educação para um aplauso aos adeptos à
saída do relvado.
Terceiro > reconhecendo nítidas
melhorias no discurso do Jesus, ainda assim foram vários os erros de
palmatória e de sobranceria ao longo da época, fomos encolhendo os
ombros e rezando que os 4 pontos de avanço, desta vez chegassem:
> Mudança de discurso nas prioridades da época.
> Rodagem do plantel, mesmo rodando melhor, ficou aquém do
necessário, veja-se as consequências da utilização final de Martins,
Aimar, Roderick, Jardel, Urreta que nunca jogaram e foram postos à prova em momentos decisivos.
> Ao contrário André Gomes, com todo o seu potêncial ficou no banco!
> Coreografia no estádio "Benfica Campeão" no derby contra o Sporting.
> Festejos da equipa na Madeira.
> Falar em "época brilhante e de sonho" a 6 jogos do final.
**Nem no meu Madeira - clube amador de futebol 11 do CIF, cometemos
tamanhas sobranceiras e vamos igualmente em primeiro em plena acesa luta pelo
título.
Quarto > Precisamente a ESTRUTURA ou o Departamento
de Futebol Profissional, como quiserem chamar. Quanto a mim, o grande
problema atual que ainda está por resolver, a verdadeira questão do
momento. A Direção fez e faz um bom trabalho, recuperou o clube,
credibilizou-o, conseguiu formar um plantel inegavelmente competitivo,
ao dia de hoje estamos a par do Porto e reconheça-se o difícil caminho
que percorreu. O presidente limou arestas e já não intervém com o
despropósito de outros dias, está mais polido e salvo os resultados
desportivo, já encosta o PDC ás cordas. Não vejo que o mal seja, por si
só do treinador, Jorge Jesus já deu mostra de competência e não é à toa
que mesmo aqueles que o assobiam, estão borrados de medo que ele vá
parar à super estrutura do FCP! Porque será?
O problema é
mesmo esse, a estrutura de futebol do Benfica, um problema conceptual
que nos tem impedido de ir mais alem, para mais, quando competimos com
um Porto que nunca olhou a meios e que, convenhamos, tem comprovada
competência em todos os domínios. O Benfica tinha uma débil estrutura, o
Jesus chegou e ao seu estilo, secou tudo à sua volta para poder reinar.
Inicialmente os resultados foram positivos mas o JJ não é um iluminado
Mourinho (...e mesmo esse!), não domina por completo todas as áreas. Ao
cabo da quarta época, fica claro, até por comparação com o nosso rival, a
falta de uma estrutura de apoio ao próprio treinador, uma “pescadinha
de rabo na boca”… o clube não impõem uma estrutura, o treinador ao seu
estilo, sobrepõem-se à estrutura mas por si só não chega, o caminho é
longo, são muitas as frentes e tem de haver uma equipa forte nos vários
domínios. Está aos olhos de todos esta gritante lacuna.
Olhemos a alguns exemplos de clubes europeus onde é possível identificar três tipos de organizações/lideranças:
1 > O presidente percebe de futebol e funciona como um diretor
desportivo, organizando toda a estrutura, política de aquisições,
rodeia-se de gente à sua imagem. O papel do treinador é treinar, poderá
ter uma opinião nas contratações mas terá de ser ele a adaptar-se ao
clube e ao seu modelo. É o caso do FCP com a figura do PDC, Antero
Henriques e restantes membros do departamento de futebol. Julgo que no
Barça o Sandro Rosell e Ulrich Hoeneß do Bayern são bons exemplos de
presidentes com aprofundado conhecimento desportivo e de futebol, onde
os resultados estão bem à vista.
2 > O presidente não é um
expert em futebol mas é um grande líder, um gestor de craveira, conhece o
clube e tem um projeto capaz. Rodeia-se de gente competente nas mais
diversas áreas, como sejam financeira, marketing, modalidades ou
futebol. A sua experiência de gestão e o tal projeto estruturado,
permite-lhe frequentes resultados de sucesso. Talvez o Manchester seja o
melhor exemplo deste modelo, o Milan e o Ajax, são outros em que na
presença de uma forte cultura no clube, independente dos presidentes ou
treinadores a estrutura responde por si só.
3 > Numa
terceira via, o presidente também não é um entendido em futebol e dá
total autonomia ao treinador. Neste caso está dependente da escolha que
se reflete nos êxitos e nos fracassos do clube. Dependerá muito do
treinador o tipo de estrutura com maior ou menor apoio da direção. Esta é
a matriz da maioria dos clubes, onde é difícil encontrar uma política
de médio/longo prazo e por conseguinte, sempre refém da equipa técnica.
O Benfica nas últimas décadas tem vivido este terceiro cenário,
sucessivos presidentes, fraca formação desportiva, na gestão ou projeto
para o clube, são raros os exemplos de competência. Exceção feita ao
ultimo presidente Vieira que tem dotado o clube de um projeto sólido e
de longo prazo mas que em termos desportivos, anda também à boleia dos
diferentes treinadores, é verdade que foi aprendendo, especialmente com
Camacho e com Jesus mas continuamos no quase...
É hora de dar o
passo final na definição de uma estrutura competente. Ao que sei, a
totalidade do departamento técnico de futebol profissional, conta já com
cerca de 70 elementos, é uma mega estrutura onde não faltam recursos.
Estou certo que estamos bem próximos, já não estão em causa grandes
revoluções mas apenas o consolidar do projeto. O grande perigo de uma
época terrível como esta, é a mudança radical de estratégia e não servir
simplesmente para cerrar fileiras e eliminar os últimos erros.
Tanto Vieira como Jesus têm a seu favor a grande capacidade de terem
evoluído, foi muito nítido no decorrer da última época, melhoraram em
vários domínios, sobretudo na comunicação. O final foi penoso e poderá
precipitar decisões mas em qualquer dos casos, em nada me oponho à
continuidade, nem me parece estar aí a grande questão!
A
estrutura de futebol cada vez mais exigente e profissional e uma clara
definição do presidente face à estratégia geral do clube, são estas sim,
as verdadeiras questões chave! obrigatoriamente terá de passar por
medidas tão simples como:
> Terminar promiscuidade de interesses internos nos passes dos jogadores.
> Aposta clara nos jogadores portugueses e da formação.
> Assumindo que vendemos 1/2 jogadores/época, com encaixe >20M€ /cada.
> Aquisição de 2/3 novos craques emergentes 5/7M€ /cada.
> Restante renovação proveniente da formação e de outros clubes portugueses.
Não havendo capacidade para reforçar a estrutura parece-me mais seguro
continuar com o Jesus, caso haja essa capacidade estou certo que
estaremos próximos do sucesso quer seja com o JJ, quer venha um novo
técnico. Neste segundo cenário tenho a fezada que o Marco Silva do
Estoril vai ser um grandíssimo treinador. Alem do discurso e resultados
das últimas épocas foi o único que assumiu a continuidade do projeto no
seu clube, é um bom indício mas ainda assim acreditarei sempre mais na
continuidade do Jesus para uma quinta época.
Tem a palavra o Excelentíssimo presidente Luís Filipe Vieira, a Nação Benfiquista, aguarda com expetativa...
Lourenço Cardoso Menezes
Um excelente apanhado da situação actual do nosso Glorioso, sua estrutura e parte técnica.
ResponderEliminarSe tivesse de adicionar os meus palpites mencionaria apenas 3 em que o segundo e terceiro são consequência do primeiro:
1 - Temo o pior no que a integridade física de JJ diz respeito a continuar a sua teimosia em brindar estes fervorosos adeptos com performances tipo Chelsea e Final de Taça seguidas. A verdade é que nos dias que correm só Deus sabe o sacrifício que muitos deles têm de fazer para dar o apoio que dão ao clube e no final só podem concluir que foram literalmente gozados por alguém que nunca sentiu o que ser do Benfica. A formação do plantel está praticamente descaracterizada - quantos Benfiquistas de gema tem?
2 - A eventual saída de um treinador de grandes clubes como o Benfica não pode nunca alterar efeitos físicos do tipo formar-se um buraco num balde de água quando retiramos a mão. Nem num clube como o Real Madrid com o melhor treinador do mundo isso é permitido. O JJ para poder continuar no Benfica tem de reduzir o seu ego para o nível da sua capacidade de liderar homens que ganham baldes de dinheiro e de uma vez por todas usar sempre o "NÓS" e não o "EU". Tem de se preocupar apenas em treinar a equipa (que é o que melhor sabe) para poder delinear sempre estratégias que inspirem os jogadores e não os tolhem de MEDO.
3 - A estrutura com a responsabilidade de gerir o futebol têm de não é cheirar, tem de tresandar Benfiquismo. Só assim os nossos jovens poderão sonhar ver compensada toda a dedicação e esforço que usaram para dar o seu talento ao clube. A Mística Benfiquista tem de voltar, custe o que custar.
Correcção que também já vi noutros sitios:
ResponderEliminar> Coreografia no estádio "Benfica Campeão" no derby contra o Sporting.
Não houve nenhuma coreografia "fanfarrona" ... houve sim um desejo e um querer (eventualmente até um crer):
http://2.bp.blogspot.com/-MrecPxGVdjU/UXVC88ZlSgI/AAAAAAAAA2Y/h1gNWq30XeE/s400/NOSSOQUEREMOS.jpg