quarta-feira, 29 de maio de 2013

Fim de Festa

Terminou a época, a quarta do ciclo Jorge Jesus, uma época sem glória e sem um único título, a mais insólita que tenho memória, aquela que nada prometia e que tudo pareceu conquistar. Estivemos perto mas nos quatro últimos jogos e fatídicos descontos, empatamos um e perdemos três! Que dizer de uma época destas, que ilações tirar, que soluções para o futuro próximo... já em Julho a bola estará aí a rolar.

Dizer que dói muito voltar a perder, especialmente para os porcos, que esta massa adepta encarnada não merecia, foi excecional no apoio e demonstrou em Amesterdão que não há muitos clubes no mundo com esta grandeza, com esta paixão. Com esta nobreza até, patente na despedida do campeonato com um estádio repleto a aplaudir ou na festa final da taça, numa das maiores tardes de convívio das últimas décadas, depois de tamanhos desaires, é obra que só está ao alcance dos maiores.

Devemos analisar o que realmente é importante, deixar a emoção e o fracasso à saída do estádio, relativizar fatores fortuitos de uma bola que entra ou sai ao lado, qualquer que seja o minuto.

Objetivamente o Benfica ficou em segundo lugar nas três principais competições que disputou até ao fim. Não é uma má performance muito menos atendendo ao passado recente. Uma final europeia é algo marcante mas a grandeza do Benfica ambiciona mais, muito mais... Mas vamos por partes...

Primeiro > Disse-o antes do último jogo, não seria a Taça a salvar a época, queríamos mesmo era o Campeonato ou a Liga Europa, pelo que não é grande drama ter perdido a final do Jamor, para mais o Guimarães mostrou um povão fantástico, não os vi a arremessar calhaus mas em família, com mulheres e crianças em cânticos, coreografias e muita paixão pelo futebol, muito bonito de ver. Já agora uma farpa aos palermas sportinguistas (reforço, somente aos palermas) que com tantos festejos nem se lembraram que este Guimarães não é o Braga e, se engata, pode passar a terceiro grande com uma perna às costas!

Segundo > Não gostei nada da entrada, muito menos da saída da equipa no Jamor, desgarrada sem união, já não é a primeira que em situações de fracasso, fica à vista a falta de cultura de clube. É a Direção que tem responsabilidade, mais uma vez tem de impor os valores adequados à sua grandeza. Já não estamos à espera que apareçam Borges Coutinhos à frente dos destinos do clube mas que diabo, há mínimos! Meto no mesmo saco toda a trapalhada do Cardozo com o Jesus, nem sei bem quem tem razão, pode ter estoirado a panela ao paraguaio, não deve ser fácil aturar o “catedrático” há 4 anos. Sou muito crítico do Tacuara como sabem mas a verdade é que desde a meia final com o Fenerbahçe, ele subiu de produção e esteve à altura, ao contrário do Lima que se foi abaixo das canetas. O Cardozo tinha pois, alguma razão moral para estar fora dele, vejo até, algum sentir a camisola que me agrada mas mais uma vez a estrutura mostrou-se fraca a salvaguardar episódios deste nível. Igualmente fraquíssima a saída antes da entrega da taça e pior, não haver alguém a reunir a equipa com a humildade e educação para um aplauso aos adeptos à saída do relvado.

Terceiro > reconhecendo nítidas melhorias no discurso do Jesus, ainda assim foram vários os erros de palmatória e de sobranceria ao longo da época, fomos encolhendo os ombros e rezando que os 4 pontos de avanço, desta vez chegassem:

> Mudança de discurso nas prioridades da época.
> Rodagem do plantel, mesmo rodando melhor, ficou aquém do necessário, veja-se as consequências da utilização final de Martins, Aimar, Roderick, Jardel, Urreta que nunca jogaram e foram postos à prova em momentos decisivos.
> Ao contrário André Gomes, com todo o seu potêncial ficou no banco!
> Coreografia no estádio "Benfica Campeão" no derby contra o Sporting.
> Festejos da equipa na Madeira.
> Falar em "época brilhante e de sonho" a 6 jogos do final.

**Nem no meu Madeira - clube amador de futebol 11 do CIF, cometemos tamanhas sobranceiras e vamos igualmente em primeiro em plena acesa luta pelo título.

Quarto > Precisamente a ESTRUTURA ou o Departamento de Futebol Profissional, como quiserem chamar. Quanto a mim, o grande problema atual que ainda está por resolver, a verdadeira questão do momento. A Direção fez e faz um bom trabalho, recuperou o clube, credibilizou-o, conseguiu formar um plantel inegavelmente competitivo, ao dia de hoje estamos a par do Porto e reconheça-se o difícil caminho que percorreu. O presidente limou arestas e já não intervém com o despropósito de outros dias, está mais polido e salvo os resultados desportivo, já encosta o PDC ás cordas. Não vejo que o mal seja, por si só do treinador, Jorge Jesus já deu mostra de competência e não é à toa que mesmo aqueles que o assobiam, estão borrados de medo que ele vá parar à super estrutura do FCP! Porque será?

O problema é mesmo esse, a estrutura de futebol do Benfica, um problema conceptual que nos tem impedido de ir mais alem, para mais, quando competimos com um Porto que nunca olhou a meios e que, convenhamos, tem comprovada competência em todos os domínios. O Benfica tinha uma débil estrutura, o Jesus chegou e ao seu estilo, secou tudo à sua volta para poder reinar. Inicialmente os resultados foram positivos mas o JJ não é um iluminado Mourinho (...e mesmo esse!), não domina por completo todas as áreas. Ao cabo da quarta época, fica claro, até por comparação com o nosso rival, a falta de uma estrutura de apoio ao próprio treinador, uma “pescadinha de rabo na boca”… o clube não impõem uma estrutura, o treinador ao seu estilo, sobrepõem-se à estrutura mas por si só não chega, o caminho é longo, são muitas as frentes e tem de haver uma equipa forte nos vários domínios. Está aos olhos de todos esta gritante lacuna.

Olhemos a alguns exemplos de clubes europeus onde é possível identificar três tipos de organizações/lideranças:

1 > O presidente percebe de futebol e funciona como um diretor desportivo, organizando toda a estrutura, política de aquisições, rodeia-se de gente à sua imagem. O papel do treinador é treinar, poderá ter uma opinião nas contratações mas terá de ser ele a adaptar-se ao clube e ao seu modelo. É o caso do FCP com a figura do PDC, Antero Henriques e restantes membros do departamento de futebol. Julgo que no Barça o Sandro Rosell e Ulrich Hoeneß do Bayern são bons exemplos de presidentes com aprofundado conhecimento desportivo e de futebol, onde os resultados estão bem à vista.

2 > O presidente não é um expert em futebol mas é um grande líder, um gestor de craveira, conhece o clube e tem um projeto capaz. Rodeia-se de gente competente nas mais diversas áreas, como sejam financeira, marketing, modalidades ou futebol. A sua experiência de gestão e o tal projeto estruturado, permite-lhe frequentes resultados de sucesso. Talvez o Manchester seja o melhor exemplo deste modelo, o Milan e o Ajax, são outros em que na presença de uma forte cultura no clube, independente dos presidentes ou treinadores a estrutura responde por si só.

3 > Numa terceira via, o presidente também não é um entendido em futebol e dá total autonomia ao treinador. Neste caso está dependente da escolha que se reflete nos êxitos e nos fracassos do clube. Dependerá muito do treinador o tipo de estrutura com maior ou menor apoio da direção. Esta é a matriz da maioria dos clubes, onde é difícil encontrar uma política de médio/longo prazo e por conseguinte, sempre refém da equipa técnica.

O Benfica nas últimas décadas tem vivido este terceiro cenário, sucessivos presidentes, fraca formação desportiva, na gestão ou projeto para o clube, são raros os exemplos de competência. Exceção feita ao ultimo presidente Vieira que tem dotado o clube de um projeto sólido e de longo prazo mas que em termos desportivos, anda também à boleia dos diferentes treinadores, é verdade que foi aprendendo, especialmente com Camacho e com Jesus mas continuamos no quase...

É hora de dar o passo final na definição de uma estrutura competente. Ao que sei, a totalidade do departamento técnico de futebol profissional, conta já com cerca de 70 elementos, é uma mega estrutura onde não faltam recursos. Estou certo que estamos bem próximos, já não estão em causa grandes revoluções mas apenas o consolidar do projeto. O grande perigo de uma época terrível como esta, é a mudança radical de estratégia e não servir simplesmente para cerrar fileiras e eliminar os últimos erros.

Tanto Vieira como Jesus têm a seu favor a grande capacidade de terem evoluído, foi muito nítido no decorrer da última época, melhoraram em vários domínios, sobretudo na comunicação. O final foi penoso e poderá precipitar decisões mas em qualquer dos casos, em nada me oponho à continuidade, nem me parece estar aí a grande questão!

A estrutura de futebol cada vez mais exigente e profissional e uma clara definição do presidente face à estratégia geral do clube, são estas sim, as verdadeiras questões chave! obrigatoriamente terá de passar por medidas tão simples como:

> Terminar promiscuidade de interesses internos nos passes dos jogadores.
> Aposta clara nos jogadores portugueses e da formação.
> Assumindo que vendemos 1/2 jogadores/época, com encaixe >20M€ /cada.
> Aquisição de 2/3 novos craques emergentes 5/7M€ /cada.
> Restante renovação proveniente da formação e de outros clubes portugueses.

Não havendo capacidade para reforçar a estrutura parece-me mais seguro continuar com o Jesus, caso haja essa capacidade estou certo que estaremos próximos do sucesso quer seja com o JJ, quer venha um novo técnico. Neste segundo cenário tenho a fezada que o Marco Silva do Estoril vai ser um grandíssimo treinador. Alem do discurso e resultados das últimas épocas foi o único que assumiu a continuidade do projeto no seu clube, é um bom indício mas ainda assim acreditarei sempre mais na continuidade do Jesus para uma quinta época.

Tem a palavra o Excelentíssimo presidente Luís Filipe Vieira, a Nação Benfiquista, aguarda com expetativa...
 Lourenço Cardoso Menezes

2 comentários:

  1. Um excelente apanhado da situação actual do nosso Glorioso, sua estrutura e parte técnica.
    Se tivesse de adicionar os meus palpites mencionaria apenas 3 em que o segundo e terceiro são consequência do primeiro:
    1 - Temo o pior no que a integridade física de JJ diz respeito a continuar a sua teimosia em brindar estes fervorosos adeptos com performances tipo Chelsea e Final de Taça seguidas. A verdade é que nos dias que correm só Deus sabe o sacrifício que muitos deles têm de fazer para dar o apoio que dão ao clube e no final só podem concluir que foram literalmente gozados por alguém que nunca sentiu o que ser do Benfica. A formação do plantel está praticamente descaracterizada - quantos Benfiquistas de gema tem?
    2 - A eventual saída de um treinador de grandes clubes como o Benfica não pode nunca alterar efeitos físicos do tipo formar-se um buraco num balde de água quando retiramos a mão. Nem num clube como o Real Madrid com o melhor treinador do mundo isso é permitido. O JJ para poder continuar no Benfica tem de reduzir o seu ego para o nível da sua capacidade de liderar homens que ganham baldes de dinheiro e de uma vez por todas usar sempre o "NÓS" e não o "EU". Tem de se preocupar apenas em treinar a equipa (que é o que melhor sabe) para poder delinear sempre estratégias que inspirem os jogadores e não os tolhem de MEDO.
    3 - A estrutura com a responsabilidade de gerir o futebol têm de não é cheirar, tem de tresandar Benfiquismo. Só assim os nossos jovens poderão sonhar ver compensada toda a dedicação e esforço que usaram para dar o seu talento ao clube. A Mística Benfiquista tem de voltar, custe o que custar.

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  2. Correcção que também já vi noutros sitios:
    > Coreografia no estádio "Benfica Campeão" no derby contra o Sporting.

    Não houve nenhuma coreografia "fanfarrona" ... houve sim um desejo e um querer (eventualmente até um crer):

    http://2.bp.blogspot.com/-MrecPxGVdjU/UXVC88ZlSgI/AAAAAAAAA2Y/h1gNWq30XeE/s400/NOSSOQUEREMOS.jpg

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