A Alma Benfiquista

Nenhuma equipa ganha jogos só com força, técnica, táctica e etc. As grandes equipas ganham jogos e títulos porque têm algo mais que as distingue e que faz a diferença - porque têm algo a que à falta de melhor definição chamarei Alma. No nosso Benfica, também nos habituámos a chamar-lhe Mística. O nome tanto faz.

Mas ninguém duvida que foi isso em grande parte que nos fez Campeões Europeus em 61 e 62, contra colossos que nos tais níveis técnico, táctico, força e experiência nos eram inegavelmente superiores. Quem alimentava essa Alma? Mário Coluna e José Águas, acho, a esta distância. (Eusébio fá-lo-ia mas mais tarde).

Hoje, vejo com tristeza essa Alma a surgir noutros clubes portugueses e a murchar no nosso Benfica.

Escrevi aqui há uns meses que David Luiz era um jogador que não deveria sair porque, para além de ser um excelente futebolista, era parte importante dessa Alma Benfiquista. E quando afinal ele saiu, manifestei aqui a minha tristeza, revolta e preocupação pelo facto.

Receio bem que se Fábio sair no final da época, e com Nuno Gomes também provavelmente de saída e de qualquer forma já em final de carreira, a nossa Alma sofra mais uma machadada.

Os grandes jogadores podem ganhar jogos e resolver problemas, mas é a Alma das Grandes Equipas que as faz realmente grandes, que as faz superarem os obstáculos intransponíveis e realizar as tarefas impossíveis, que transforma Equipas em Campeões. E a Alma de uma equipa existe porque em cada momento há jogadores especiais que a alimentam - nunca mais do que um ou dois, com sorte talvez três. Podem não ser, e muitas vezes não são, os melhores jogadores, os que marcam mais golos, os mais habilidosos. Mas a longo prazo são esses os realmente decisivos.

E receio bem que a Alma da nossa Equipa esteja hoje ferida, espero que não de morte. Mas para a recuperar não podemos deixar sair os jogadores que a alimentam.

PS - Há uma parte da Alma Benfiquista que nunca morre, claro, eu sei, que é a parte que pertence aos adeptos. Mas essa, embora importante e indispensável, não chega se não for acompanhada lá dentro por quem efectivamente participa activamente nas Vitórias - e também nas derrotas.