terça-feira, 2 de outubro de 2012

Não passa nada...

A poucos dias do terceiro Benfica – Barcelona no Estádio da Luz, as contas do clube chumbaram em plena Assembleia Geral, o órgão deliberativo máximo consagrado pelos Estatutos...E, embora o Presidente da Mesa da AG tenha pedido que se retirem ilações, não passa nada...

Acredito, com sinceridade, que até vamos conseguir, de forma surpreendente mas guerreira, vencer pela primeira vez os ‘blaugrana’ em eliminatórias para a Liga dos Campeões com um golo ao minuto 83 de Enzo Perez na baliza Sul. Para alcançar tal feito, bastará espírito de combate e um pouco da mesma sorte dos últimos minutos da Final da Taça dos Campeões Europeus que vencemos a este mesmo clube, em Berna, no ano de 1961.

‘Más que un club’ apregoa o lema barcelonista no seu Camp Nou. Uma equipa que decidiu chamar a si a glória e atingiu o respeito do mundo só composta por portugueses fez a História do Benfica.

A primeira vez que o Benfica jogou com um jogador estrangeiro no seu onze foi apenas no ano de 1979, cinco anos passados o 25 de Abril e a guerra do Ultramar. Para tal, esse mesmo desígnio teve de ser aprovado em Assembleia Geral do clube e esse momento é reconhecido como um dos mais importantes na sua história. Importa revelar que nessa Assembleia – foi a segunda em que os sócios se tiveram de mobilizar, pois a primeira tinha reprovado esta mesma proposta dois anos antes -, após 8 horas de discussão, registaram-se 472 votantes e perfilaram-se apenas 62 votos contra.

Este domingo à noite quis ouvir com atenção os programas televisão de debate sobre a atualidade desportiva. Inevitavelmente, o tema do chumbo do relatório de contas na AG do Benfica da passada quinta-feira foi abordado...E, segundos os representantes dos adeptos (?) benfiquistas, não passa nada...

“O que são 700 sócios organizados que congeminaram este resultado de chumbo?”, questiona-se um peso-pesado da esfera benfiquista, referindo-se que nem representam 1 % representa de todo o universo encarnado e que aquilo que se passou não foi mais do “uma democracia obsoleta”. É ofensivo ouvir isto de alguém que depois revelou nem ser sócio afinal. E que, por essa mesma razão, nem sequer esteve lá...

Acrescentou ainda que muitos dos presentes se fizeram sócios no próprio dia. Mais um desconhecimento da realidade clubística do seu clube do coração. Os sócios só têm direito a votar após um ano de antiguidade, mas têm direito a participar nas Assembleias Gerais até lá. Embora até consiga reconhecer a existência de algumas ‘trapaças’ e de sócios a votar mais do que uma vez - o que em nada diferenciou os resultados tal foi a inequívoca vontade da maioria dos sócios que lá estavam – a culpa do sistema ineficiente é da própria Mesa da Reunião Magna, que não aceitou a proposta de um sócio no palanque de um modelo de voto diferente em urna fechada ou com entrega do papel correspondente ao seu número de votos na Mesa, ficando o devido nome e número de sócio assinalados.

Apesar de todo este espetáculo, digno de uma total iliteracia democrática, defendeu de forma intransigente os novos Estatutos do clube, com normas que são altos atentados à liberdade aprovados por uma Assembleia Geral que reuniu pouco mais de 100 associados. Já não sei, de todo, se isto é incoerência, ou ‘lambe-botismo’ desenfreado. O que sei é que as contas chumbaram... E, estatutariamente, não passa nada...

Com sinceridade, desde que nasci que, inequivocamente, o FC Porto tem obtido mais vitórias e taças. Contudo, nunca esperei assistir ao mais (mais um!) degradante espetáculo: ver um benfiquista receber lições de democracia de azuis-e-brancos e de gestão e respeito institucional de verdes-listados.

Já mais de 5 dias se passaram desde que as contas chumbaram... E, verbalmente por parte dos órgãos executivos do clube, não passa nada...

Anualmente, como sócio do clube, tenho encargos que sou incapaz de não ter em dia. Pago mensalmente as quotas do clube, anualmente o lugar no Estádio. Fora cachecóis, camisolas, livros e bilhetes para determinados jogos para a família ou para a namorada. Vou, frequentemente, às Assembleias Gerais do clube, sou dono da minha consciência, não me deixo instrumentalizar, não levo petardos e nunca mandei ninguém calar.

Mas exijo respeito por cada cêntimo que pago e ação que tomo, sobretudo se estive até do lado que venceu a votação e chumbou a proposta apresentada. Uma direção que apresenta relatórios de contas na ordem de Milhões de Euros, mas que não respeita 1 Euro que seja gasto por um dos seus associados, é uma Direção que não merece que o seu Relatório de Contas seja passado...

Do alto dos meus 50 votos que tenho aos 28 anos de idade – e que abomino representar (alguma vez sou 50 vezes, 10 ou 2,5 vezes mais benfiquista do que alguém?) -, com esta atitude de informar com mentiras os seus ‘lacaios’ na Comunicação Social e de estratégia de silêncio absoluto perante a justificação que deve aos seus associados, desta Direção não passará mais nada...

Eu confio nos sócios do Benfica e em qualquer que seja a escolha da sua maioria. No entanto, na máxima liberdade da minha expressão, poderei é discordar dela e não ser defensor, de entre outras coisas, que existam normas estatutárias onde se escrevam artigos com termos tão jurídicos como "no entanto" lá no meio.

Nos dias hoje, será demasiado ambicioso querer ser de um clube que seja, de novo, um exemplo máximo, para todos, daquilo que devem ser os comportamentos da vida em sociedade?

Concorde-se, ou não, com esta visão, o ‘meu’ Benfica não se limita a ser uma equipa de futebol. É muito mais do que isso: é uma escola de cidadania que merecia, a cada episódio, outro sentido de partilha, outro carácter, outra paixão, outro afecto e outra honra.

E que, quando assim é naturalmente, dentro do campo vence sempre. Até ao Barcelona.

4 comentários:

  1. "O fanático é aquele que não pode mudar de ideias e não quer mudar de assunto". Sir Winston Churchill.


    Para quem ainda não reparou, hoje joga-se um Benfica-Barcelona, um jogo que não se joga todos os anos, pois é contra a melhor equipa do mundo, possivelmente de todos os tempos.

    A concentração de energia, o focus da atenção de todos os que se dizem benfiquistas deve estar, ou devia estar, nesse jogo. Vir falar de coisas importantes mas que hoje não têm importância nenhuma é próprio de fanáticos de opinião. Definir prioridades é próprio de gente inteligente e não é preciso estudar gestão para o saber fazer.

    Esperemos que os fanáticos consigam hoje, pelo menos, concentrar-se naquilo que realmente interessa e apoiem o nosso clube.
    Viva o Benfica!


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    1. Eu estive lá. E o Manuel, quem é ?

      Além disso, este texto já tinha sido escrito na véspera.

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