segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Como Matic ontem


A análise da história deve ser fria e distanciada, algo extremamente difícil de fazer quando diz respeito a futebol. Existe sempre uma tendência natural de defesa do próprio clube, sem se realizar primeiro a devida constatação dos números e factos.

O Benfica é o clube com mais campeonatos nacionais conquistados em Portugal. Dos seus 32 títulos, conquistou 28 desde a época 1934/35 até 1989/90 e apenas 4 nos últimos 22 anos (1990/91, 1993/94, 2004/2005, 2009/2010), anos em que o FC Porto “dominou” o futebol português.

Nos últimos 22 anos, FC Porto e SL Benfica jogaram entre si 47 vezes para o Campeonato Nacional, incluindo o empate a duas bolas ontem no estádio da Luz. Infelizmente, a estatística não é animadora para o lado encarnado. Enquanto que nos jogos realizados em Lisboa se registaram 7 vitórias para cada lado (destas, 5 do Porto nos últimos 10 jogos na Luz) e 10 empates, com uma ligeira vantagem para o Benfica em número de golos marcados (27 contra 24), o registo no Porto é mais desequilibrado. No estádio das Antas e do Dragão, em 23 jogos, o FC Porto venceu 16 vezes, empatou 5, perdeu 2, marcou 46 golos e sofreu 19.

As década mais hegemónicas das vitórias benfiquistas foram as de 60 e 70 do século XX. Em 21 épocas, entre 1959/60 e 1979/80, o Benfica conquistou 14 Campeonatos Nacionais, (um “bis” em 1959-61 e quatro “tris”: 1962-65,  1967-69, 1970-73 e 1974-77), sobrando 5 para o Sporting (1961/62, 1965/66, 1969/70, 1973/74 e 1979/80) e 2 para o FC Porto após 19 campeonatos de jejum (1977/78 e 1978/79).

Neste período, SL Benfica e FC Porto defrontaram-se para o Campeonato Nacional 42 vezes, entre jogos fora e em casa. Na Luz, 11 vitórias para o Benfica, 7 empates e 3 derrotas, com 37 golos marcados e 20 sofridos. Na cidade do Porto, embora a vantagem azul e branca com 9 vitórias, registaram-se ainda 6 empates e 6 vitórias encarnadas.

Embora com um registo não tão distante para o lado do Porto como nos últimos anos, é visível que defrontar o FC Porto sempre foi uma tarefa complicada, tanto fora como em casa, mesmo nos anos de maior glória encarnada. Todavia, nos anos 60 e 70, a esta equação juntava-se ainda um importante Sporting, que era capaz de arrecadar frequentemente pontos no Porto e vencia habitualmente o FC Porto em casa, apresentado mais dificuldades contra o Benfica nos derbys decisivos.

Sem dúvida que a conquista de campeonatos nacionais em Portugal, onde o desequilíbrio entre os "grandes" e os restantes clubes é mais do que evidente, é essencial conseguir vencer os rivais mais próximos em casa e no limite, pelo menos, empatar esses jogos fora.

Atualmente, deve juntar-se a estas contas também o Sporting de Braga. De facto, neste campeonato 2012/2013, dos 9 pontos que o Benfica já disputou com Braga, Sporting e Porto, conquistou  apenas 5. Neste mesmo “campeonato dos grandes”, o FC Porto arrecadou 7 pontos. 

Embora se deva ter em conta que o Benfica irá defrontar o Sporting (de Lisboa) em casa e o Porto deslocar-se-á a Alvalade, o inverso se passa frente ao Sporting de Braga, clube contra o qual o Benfica já perdeu 2 pontos em casa. Além disso, toda a tradição tem a sua deriva e desde ontem que já se começaram a guardar “as bolas de golfe” para se atirar para dentro do campo na penúltima jornada quando o Benfica se deslocar ao terreno do dragão.

Por coincidência ou não, a última vez que o Porto empatou 2-2 na Luz na primeira volta de um Campeonato Nacional, foi no memorável Campeonato Nacional 1990/91. Na 2ª volta, o Benfica ia na frente do campeonato a poucas jornadas do fim, mas ainda faltava a visita ao estádio das Antas.  

Nesse tempo, a guerra ‘Norte-Sul’ já conhecia os seus dias e eram intensas as trocas de galhardetes entre os dois clubes. Os dias que antecederam esse jogo foram repletos de declarações incendiárias e inclusivamente  ameaças de morte ao presidente do Benfica João Santos. No próprio dia de jogo, o balneário tinha um cheiro nauseabundo ‘a bagaço’ de forma a obrigar os jogadores encarnados a equiparem-se no túnel e nos corredores do estádio, ao mesmo tempo que eram ofendidos por dirigentes portistas. No fundo, uma triste representação do expoente máximo do ridículo que a rivalidade pode atingir.

Dentro do campo, o empate foi-se mantendo. Nos últimos minutos, o FC Porto, uma vez que precisava da vitória, foi-se balanceando mais no ataque e começou a abrir espaços atrás. Eriksson, atento, não se faz rogado e colocou  César Brito em campo e numa jogada de contra-ataque, Vítor Paneira chegou à linha de fundo, cruzou ao primeiro poste e o sentido de oportunidade do número 15 fizeram o resto. Não convencido, poucos minutos depois, lançado por Valdo em velocidade, bateu a defesa e sentenciou o jogo com o 0-2 que permaneceria até ao final.

Tal como nesse glorioso dia 28 de Abril de 1991, é tempo de deixar de fazer contas. Mesmo depois dos 4 pontos decisivos perdidos em casa frente aos adversários mais perto na tabela, continuamos em primeiro. Com concentração, sem desculpas e sem complacências, preparemo-nos já para jogar para ganhar em todos os campos.  

Nas lutas intensas, é a capacidade de sacrifício, a vontade de vencer e o espírito que faz os campeões nos momentos decisivos que prevalece sempre e faz com que os títulos sejam merecidos. Como Matic ontem e César Brito em 1991, assim queiramos todos e seremos com certeza campeões no dia 12 de Maio de 2013.

Até ao fim, por um campeonato à Benfica cheio de instantes memoravelmente gloriosos. 





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