O downsizing ou a crónica de uma sportinguização anunciada

O meu pai ainda é do tempo em que o Benfica ganhava a maior parte dos campeonatos em disputa (anos 60 e 70). Eu ainda sou do tempo em que o Benfica alternava com o Porto no número de campeonatos ganhos (anos 80). Passei a ser do tempo em que passámos uma década só com 2 campeonatos ganhos (anos 90). E ultimamente sou do tempo em que quase no fim desta década só temos 1 campeonato (atipicamente) ganho. Entretanto o fcp ganhou o seu 24º título nacional, e o Benfica, caso termine em 3º, será o 4º ano consecutivo em que não fica nos 2 primeiros. É triste ver os lagartos contentarem-se com o 2º lugar, com uma equipa sub-orçamentada e sem capacidade para contratar "estrelas" por motivos claramente financeiros. E nós, quantos mais empréstimos obrigacionistas terão de ser feitos até alguém gritar "O rei vai nu!"?.

O downsizing referido no título será uma realidade no fim desta época. A desorçamentação já teve alguns sinais por parte da direcção ao ser anunciada a venda de jogadores caso não se chegasse à Champions. A continuação da política despesista da última pré-época seria um risco enorme. É que, caros leitores, não há milagres: gastar 25 milhões de euros em contratações e aumentar substancialmente a massa salarial torna-se insustentável com a série de maus resultados que temos tido. Na minha opinião, o Benfica só ainda não entrou em ruptura financeira devido à quebra acentuada das taxas de juro, o que nos permitiu um certa folga em relação ao passado recente, relativamente aos custos financeiros. Cada vez mais me convenço que o tão propalado milagre financeiro operado por LFV está longe de ser uma certeza e os empréstimos obrigacionistas de valor crescente (15 Milhões em 2004, 20 em 2007, 40 em 2009), não podem ser considerados como uma ferramenta eterna.
Não digo que estejamos à beira da falência, mas sim que a situação não é tão cor-de-rosa como às vezes se transmite para o exterior. Agora é só tentar adivinhar que jogadores irão sair/ ser vendidos: Luisão, Di Maria, Cardozo? Katsouranis queimado. Reyes demasiado caro.

O dilema continua. Desinvestir na equipa de futebol ou continuar na aposta de risco à espera que dê frutos? Neste momento a opção é evidente. Depois de 2 anos de gastos e com os resultados que se viram, o cinto vai apertar. Pode ser que desta forma se aumente o critério e o rigor das decisões.

Para a história fica mais uma época miserável, com um plantel e um treinador caríssimos e objectivos falhados. O sporting com a sua cantera, vai disfarçando a sua terrível situação financeira aos olhos do público. E nós, por quanto mais tempo aguentaremos esta deriva?

Só sei que por este andar, o fcp apanha-nos em nº de títulos daqui a uns 10 anos. Deixámos de jogar com Liverpools, Manchesters e Barcelonas para jogar (e perder) com Olympiakos e Metalists.

Se calhar os caros leitores acham este texto demasiado depressivo e negativista. Se calhar hoje estou num dia não. Se calhar estou farto de ver o porto ganhar campeonatos. Se calhar estou farto de ver a propaganda de fuga para a frente do LFV nos media quando as coisas correm mal.

O aumento da dimensão internacional do fcp nos últimos 20 anos é uma evidência indesmentível, independentemente de ter sido alicercada e alavancada pelas jogadas de bastidores que se conhecem no plano interno. Uma coisa é certa. Igualmente indesmentível é a capacidade que têm de, nos momentos menos bons, saberem unir-se em torno de um objectivo comum.

Com esta superioridade manifestada no plano interno e no plano externo, é somente uma questão de tempo (1 ou 2 gerações) até a nossa bandeira do maior número de adeptos ser igualmente ameaçada.

Para mim sempre foi uma verdade inquestionável que o Benfica é o maior clube português. Temo pelo dia em que os meus futuros filhos e netos me perguntem porquê.